3 de dezembro de 2011

Há evidências reais de torturas, execuções de indivíduos desarmados e extermínios em massa dos que ousam desertar ou rejeitar o regime.


Síria: A Ditadura do Medo


Lívia Abdala
[Composição de imagens-anamerij-Fonte Reuters]

Os protestos por aqui se avolumam, estamos a vivenciar primitiva guerra civil. Já contabilizados mais de 4 mil mortos e um número cada vez maior de soldados pegando em armas contra o governo do presidente Bashar al-Assad, que não se rende, muito pelo contrario instalou a ditadura do medo para amealhar apoiadores, como forma de garantir-se e sustentar seus interesses, seus fins pessoais.

Reinam o pânico e obsequioso silêncio. Os que ousam se manifestar, tornam-se alvo da perseguição de Bashar al-Assad, como o padre Paolo Dall'Oglio, membro da comunidade jesuíta da Síria e responsável pelo mosteiro Mar Musa al-Habachi, perto de Nabak, a quem foi determinada a imediata saída do país. O Ministério sírio do Interior enviou uma ordem nesse sentido ao bispo do qual o religioso depende. A expulsão de Padre Paolo, personalidade muito respeitada na Síria por parte das várias comunidades confirma a ditadura imposta ao povo. O governo sírio protege unicamente aqueles [acuados e coagidos] que aceitam apoiá-lo, assumindo o seu discurso, divulgando a sua propaganda, justificando os barbarismos praticados, conferindo-lhe deste modo o aval desejado para seus comportamentos criminosos.

Bashar al-Assad conquistou apoio de 2,5 milhões de cristãos. São lideranças religiosas covardes, que preferem se esconder nas benesses do Ditador a cumprir seus votos missionários de defender as minorias subjugadas pelo governo, que lhes impõe condições de vida desumanas e degradáveis: fome, miséria, e morte são os mais leves castigos aplicados a eles.

Há evidências reais de torturas, execuções de indivíduos desarmados e extermínios em massa dos que ousam desertar ou rejeitar o regime. Nos bairros e vilarejos cristãos têm permanecido em grande parte quietos, sem nenhuma manifestação ou reação contra os crimes praticados. Em vez disso, calamitoso silêncio. Ou pior, tomados pelo pavor de represálias, manifestam lealdade ao Ditador: único jeito de se manterem vivos.

O que mais causa espanto é esta adesão dos lideres religiosos, todos convocados pelo Governante, e rendidos a Ele, diante a clara ameaça recebida: apoiem-me ou suas igrejas queimarão.
Notícias vazadas deste encontro, afirmam a presença do patriarca ortodoxo sírio Ignatius, presença ativa no funesto encontro com o Governo. Ignatius tem 78 anos e está gravemente doente, mas ainda é uma figura poderosa. Presentes também Bispos e Arcebispos representando católicos, armênios, arameus e assírios.
  
Ao que parece, Assad, um membro dos alauitas, uma seita do islamismo xiita, não queria presumir que os cristãos da síria continuariam afastados da política. Sentindo que não apenas sua autoridade, mas talvez sua própria sobrevivência estivesse em jogo, ele recorreu aos mesmos meios que seu pai, Hafez Assad, usava para manter o poder: pressão e violência.

A Liga Árabe suspendeu a Síria, isolando o país internacionalmente. Damasco perdeu o prazo da última sexta-feira para que Assad colocasse um fim ao derramamento de sangue e permitisse a entrada de uma comissão de observadores no país. A Liga permitiu uma breve prorrogação, mas no domingo impôs sanções econômicas duras contra o país. Na quarta-feira, a Turquia impôs suas próprias sanções econômicas contra a Síria.


Mas também há jovens cristãos como Mohammed, que estão organizando a resistência em Bab Sharqi, um distrito na cidade velha de Damasco, onde também fica a igreja do arcebispo Gregórios. Mohammed formou um comitê organizador juntamente com sete outros amigos. Os ativistas têm todos entre 20 e 29 anos, a maioria estudantes. Eles se reúnem em locais secretos e se comunicam por e-mail e telefone por satélite. Mas, ainda é um movimento em construção.

Dentro de Damasco, há apenas poucas centenas de cristãos assumindo um papel ativo como Mohammed. Até o momento, o apoio a eles vem principalmente de outros cristãos que vivem no exílio, que formaram grupos de oposição nos Estados Unidos e no Reino Unido. Eles também estão planejando montar um na Alemanha.

Trabalhando em conjunto com o Conselho Nacional Sírio, o grupo de oposição mais importante, esses ativistas estão buscando aumentar a pressão sobre o Ocidente. A primeira opção deles seria uma intervenção semelhante ao envolvimento da OTAN na Líbia. Eles não veem nenhuma chance de sucesso sem apoio militar e não entendem por que Washington, Paris, Londres e Berlim são tão contrários à ideia.

Tudo muito complexo e contraditório, nestas plagas. Ao ser perguntado sobre uma possível intervenção, o arcebispo Gregórios riu alto, e alegou: como cristão, não acredito no poder das armas, apenas na paz e na democracia.

O que significa ter dito: abro mão de todos os meus princípios humanistas- que devem reger meus atos – derivativos de minha missão e de meu oficio, renego minha servidão as leis divinas, para seguir a egolatria assassina e demoníaca de Assad.

Amigos Brasileiros, o sofrimento aqui é incalculável, porque o uso da violência contra a Dignidade e a Vida de tantos inocentes, provoca uma derrama de sangue, lágrimas e dor, manchando o solo Sírio, para sempre.


[Imagem-Fonte Reuters]
Bashar al-Assad é mais traiçoeiro que um lobo.


"[بشر] [أل-سّد] أكثر خائنة من ذئب."



[Líbano /Beirute , em 03 de novembro de 2011]

5 comentários:

  1. Livia, uma descrição emocionante da perversa situaçao da Siria.
    Cuide-se Amiga!
    Obrigada por estar conosco, seja mais que bem chegada.
    Bjs querida.
    nanamerij

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  2. Lívia,
    Um quadro estarrecedor o que você descreve.
    "A punição que os bons sofrem, quando se recusam a tomar parte no governo,
    é viver sob o governo dos maus."
    Envio vibrações de Amor, que a Paz possa
    se restabelecer.
    Seja muito bem-vinda,
    Abraços,
    Eliana Crivellari

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  3. Lamentável saber nossos irmãoS tão opromidos.E A FÉ COMO MOEDA DE PODER.
    Aguardarei sempre atento as noticias da Pátria .
    Abraços, Rachid Karime-RJ

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  4. De tão longe, seja bem vinda. Brilhante estreia. Bom saber a verdade sobre o que corre com os Povos do Mundo, ainda que sejam assim oprimidos.
    Deus te guarde e bem guie.
    Parabéns pelo relato claro, objetivo e elucidativo.
    Maria Helena Gueiros-RJ

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  5. Lívia, que bom ter voce entre nós! Gratíssima por seus relatos. A Literacia encontra preciosidades por esse mundo , Livia. Agora encontrou você, para nossa felicidade.
    Mil bjs
    Belvedere

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